domingo, 17 de abril de 2011

matéria 1º ano :sociologia

Chamamos de autores “clássicos” aqueles cujas obras fundamentam a área do conhecimento que eles se propõem a estudar. Além da fundamentação da ciência, essas obras são importantes e reconhecidas por sua originalidade, o que as mantém vivas ao longo do tempo. Na Sociologia, os clássicos remetem a três autores do século XIX, época de consolidação da sociologia enquanto ciência: Durkheim, Weber e Marx.
A sociologia de Émile Durkheim
Podemos afirmar que a sociologia de Comte mais se assemelhou a uma proposta de conduta social do que propriamente a uma ciência social. É por isso que muitos sociólogos afirmam que a sociologia enquanto ciência nasceu com outro francês: Émile Durkheim.
Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, na cidade de Épinal, na região francesa da Alsácia-Lorena. Formou-se na Escola Normal Superior de Paris em 1882. Lecionou filosofia nos liceus de Sens, Saint-Quentin e Troyes entre 1882 e 1885. Em 1887, aos 29 anos de idade, tornou-se responsável pela cátedra de sociologia na Universidade de Bordéus, onde começou a escrever algumas de suas obras. Em 1902, de volta a Paris, foi nomeado assistente na cadeira de Ciência da Educação, e, em 1910, transformou-a em cadeira de Sociologia.
Entre as principais obras desse importante sociólogo estão: As regras do método sociológico, Da divisão do trabalho social, O suicídio e As formas elementares da vida religiosa. Após toda uma vida de exclusiva dedicação ao ensino e pesquisa da ciência da sociedade, tendo passado este empenho para seus familiares, como seu sobrinho Marcel Mauss, importante antropólogo, Durkheim faleceu em 15 de novembro de 1917.
A sociologia de Durkheim tem como objeto de estudo os fatos sociais, por meio dos quais é possível apreender o que é uma sociedade. Essa preocupação tem origem no positivismo, pensamento social atuante na França do século XIX, que procurou estudar a sociedade da mesma forma como ocorre nas ciências naturais.
Segundo Durkheim, o fato social é tudo aquilo que pode ser considerado como coisa, ou seja, tudo o que existe nas sociedades humanas e que pode ser tratado da maneira como a Física estuda os corpos e seus movimentos. Nas palavras do próprio autor, o fato social “é toda aquela maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”.
A partir dessa concepção, podemos afirmar que fato social é todo aquele acontecimento que possui três características fundamentais:
Generalidade – Todo fato social deve ocorrer em qualquer sociedade humana, como, por exemplo, a divisão do trabalho, o matrimônio e as leis.
Coercitividade – É a qualidade de imposição que todo fato social deve exercer sobre os indivíduos. A capacidade de coerção de um fato social deve-se ao fato de este fenômeno existir antes de nós chegarmos ao mundo. Por exemplo, as regras e normas diversas existem e, se não as acatamos, somos passíveis das respectivas punições;
Exterioridade – Essa característica tem origem em outro conceito também importante na sociologia de Durkheim, que é o de consciência coletiva. Derivada da coercitividade, a exterioridade significa que o fato social é externo ao indivíduo, ou seja, está além da sua consciência particular ou individual.
Outra preocupação de Durkheim foi com a questão da neutralidade e objetividade da sociologia. Segundo esse pensador social, é recomendável ao pesquisador social manter uma atitude de distanciamento do objeto de estudo, como ocorre nas ciências naturais. Isto é possível através de uma rígida separação entre o objeto a ser estudado e o sujeito que o estuda, além do que, cabe ao sujeito tratar o respectivo objeto como coisa.
O sociólogo francês também buscou elaborar uma classificação das sociedades, cujo critério era baseado na solidariedade humana, dividida em dois tipos: a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. A primeira é fundamentada nos laços de parentesco, religião e tradições em geral. É típica das sociedades pré-capitalistas. A segunda já é mais comum entre as sociedades modernas ou capitalistas, e está calcada na divisão do trabalho, pois Durkheim afirmava que esta divisão é básica em qualquer sociedade, porém, nas sociedades capitalistas, ela praticamente é a mais importante para a manutenção da coesão social.
O bom funcionamento da sociedade
Durkheim também manifestou uma grande preocupação com o bom funcionamento das sociedades humanas, o que nos levou a classificá-lo como um funcionalista. Para avançarmos um pouco mais nessa questão, precisaremos tomar contato com o conceito de instituição social.
Por instituição social, podemos tomar uma determinada regra ou um valor que sejam reconhecidos, aceitos e confirmados pela sociedade, pois sua importância advém do fato de serem estratégicos para manter a organização social e satisfazer as necessidades dos indivíduos. Assim, em qualquer sociedade, há várias instituições desse tipo, como a família, a escola, o governo, a religião; todas elas são mecanismos de proteção e manutenção da sociedade.
Uma sociedade sem regras claras, sem valores delimitados e sem limites é uma sociedade em estado de anomia, o que pode levar os indivíduos que a compõem a um profundo desespero. Em sua obra O suicídio, de 1897, Durkheim procurou demonstrar a relação entre a anomia e o alto número de suicídios ocorridos na Europa no século XIX.
Por essa época, as instituições sociais europeias se encontravam enfraquecidas, pois havia muitos valores tradicionais sendo rompidos, sobretudo por conta da industrialização e todas as vantagens e desvantagens que ela trouxe em seu bojo.
Durkheim teve um apreço especial em relação às instituições sociais, exatamente por entender a importância delas para o bom funcionamento de qualquer sociedade. Isso nos remete a outra preocupação desse sociólogo, qual seja, a questão de saber o que é um fato social normal e um não-normal, ou, mais precisamente, a anomia.
Para Durkheim, a sociedade é semelhante a um organismo que apresenta estados normais e estados patológicos. Aqueles se caracterizam por representar um consenso entre os indivíduos, enquanto estes significam a ruptura desse consenso. Em uma sociedade em que as instituições estejam corrompidas, a anomia operará largamente, isto é, ocorrerá uma patologia social que provocará a desestruturação social.

A sociologia de Weber
De acordo com a perspectiva funcionalista de Durkheim, um fenômeno social só serve se funcionar para a integração e a manutenção de uma sociedade.
Na Alemanha, talvez por sua tardia revolução industrial, a diversidade era aceita como elemento importante para se estudar sociologia. Wilhelm Dilthey (1833-1911), filósofo e historiador alemão, enfatizava a diferença entre entender e compreender. Entender é estabelecer uma única razão sobre determinado fenômeno, como ocorre na Física. Compreender é ter empatia ou experimentar tal evento, pois cada ação humana é particular, possui o seu significado característico.
Os cientistas sociais alemães tinham claro que era necessário compreender as ações sociais. O mais importante deles foi Max Weber.
Nascido em 21 de abril de 1864, na cidade de Erfurt, Alemanha, Max Weber foi o primogênito de oito filhos. Teve uma forte criação protestante por parte de sua mãe. O pai foi jurista e político. Mudou-se para Berlim, com a família, em 1869. Entrou na Faculdade de Direito de Heidelberg em 1882, mas, no ano de 1883, interrompeu os estudos para prestar um ano de serviço militar em Estrasburgo, retomando a atividade estudantil no ano seguinte. Formou-se em 1888. Em 1891, escreveu sua tese História das Instituições Agrárias. Por motivos de saúde, licenciou-se do magistério em Heidelberg, de 1898 a 1899. Viajou para os Estados Unidos no ano de 1905, experiência que marcaria sua formação intelectual. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ocupou o posto de capitão do exército alemão, encarregado de administrar nove hospitais. Mudou-se para Viena em 1918 e, no ano posterior, foi um dos redatores da Constituição da República de Weimar e assessor da delegação alemã, durante as negociações de paz em Versalhes. Weber faleceu em 1920. Dentre seus livros, destacam-se: A ética protestante e o espírito do capitalismo, Economia e sociedade e Ciência e política: duas vocações.
Max Weber acreditava que o conhecimento vinha da experiência, mas era inevitavelmente fragmentado e só poderia abordar um dos aspectos daquilo que chamamos de realidade. Assim, Weber raciocinava que as ciências humanas, no caso específico a sociologia, não poderiam ser estudadas ou ser comprovadas como a física, a química ou mesmo a matemática. Essas ciências conseguem demonstrar uma relação de causa e efeito, quando estudam os seus respectivos objetos de estudo. O verbo mais correto para o ofício do sociólogo não é entender, ou estabelecer uma relação de causa e efeito, e sim compreender.
A análise da realidade social de Weber pressupõe, além de uma visão histórica, a utilização do conceito de ação social: este é o objeto de estudo da sociologia weberiana. Toda ação social:
consiste na conduta humana dotada de sentido, de • uma justificativa elaborada de forma subjetiva;
é um comportamento consentido e planejado, por• tanto; é uma ação intencional;
tem o seu sentido relacionado com os outros, ou • seja, nela os seres humanos ajustam-se de situação para situação; trata-se de atuar tendo os outros em mente;
ocorre quando todos se comportam de acordo com o • que se faça, como, por exemplo, usar roupas adequadas a cada situação social.
Sendo assim, a ação social para Weber é a conduta humana, pública ou não. Essa conduta, por sua vez, pode ser dividida da seguinte maneira:
ação tradicional• – aquela que existe e não é contestada, como o poder de um pai sobre o filho, por exemplo;
ação afetiva (ou emocional)• – trata-se de todas aquelas que sejam motivadas pela emoção, e não pela razão;
ação racional• – pensar, planejar, antecipadamente, o comportamento de acordo com os outros. Ela pode ocorrer com relação a valores ou com relação a fins. Para Weber, na sociedade capitalista moderna o que predomina é o racional com relação a fins. Essa mentalidade cria um tipo de autoridade e dominação na sociedade: a dominação racional legal, que tem como meta o planejamento voltado para os objetivos.
A questão da racionalização presente no mundo contemporâneo, segundo Weber, também está presente na esfera do Estado, cuja burocratização expressa esse alto grau de ação racional.
Ao contrário de Durkheim, cuja idea era de que a sociedade submete os indivíduos, Weber não via contradição entre indivíduos e sociedade, pois somente o sentido ou significado de um fato social poderia ser conhecido ou compreendido. Uma pessoa entrega um papel para outra e isso é um fato social, mas o papel pode ser desde um bilhete até uma nota promissória. É o seu significado que irá estabelecer uma relação social, que é quando uma ação de um indivíduo é correspondida por outro.
Assim, para o pai da Sociologia Compreensiva, a realidade social não é única e também não é possível de se estabelecer uma sociologia que contenha as leis gerais da sociedade humana, como era o caso de Durkheim e dos positivistas em geral.
Devemos ter uma perspectiva histórica das sociedades a serem analisadas.
Isso significa que cada sociedade é particular, mesmo que haja afinidades, como a economia de mercado, no caso das sociedades capitalistas, e, para compreender essas sociedades, devemos compreender aquilo que é valioso para seus integrantes, sua cultura. E, mesmo assim, o sociólogo sempre deve se preocupar em aprimorar seu objeto de estudo, pois a objetividade plena nas ciências sociais é impossível.
Enquanto método de investigação para podermos estudar uma sociedade, Weber recomenda o conceito de tipo ideal, um conceito-limite puramente ideal estabelecido pelo sociólogo, por meio do qual ele pode medir a realidade, através de comparações, com vistas a esclarecer o conteúdo empírico de seu objeto em estudo.
O caso mais famoso de uso do conceito de tipo ideal foi o do capitalismo, no qual Weber estabeleceu que os países de religião protestante seriam mais adiantados que os católicos porque os primeiros valorizaram o trabalho e a parcimônia, elementos imprescindíveis no capitalismo, e os segundos preferiram o ócio e o desapego material.
Nesse livro, Weber procura mostrar que sem a Reforma Protestante, em especial o Calvinismo, não seria possível acontecer o avanço do capitalismo da maneira como aconteceu, já que tal Reforma foi um dos alicerces para a criação e formação da sociedade industrial e capitalista, quando foi inserida a idea de que não é pecado trabalhar e ganhar dinheiro (poupar, negociar, cobrar juros), anteriormente abominada pelo catolicismo tradicional.

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