quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Entenda o que está acontecendo no Oriente Médio e Norte da África

Artigo da correspondente da revista CartaCapital em Paris, mostra porque o norte da áfrica e o Oriente Médio vivem momentos de tensão.

Refugiado na Arábia Saudita desde sexta-feira 14, o ex-líder tunisiano Zine El-Abidine Ben Ali, deposto após 23 anos de ditadura, certamente assiste, estarrecido, às recorrentes imagens televisivas de sua Villa saqueada e vandalizada, e da piscina na qual por alguns dias em águas turvas navegou entre escombros um colchão. Outras imagens da Revolução do Jasmim, estas infinitamente mais importantes para o futuro da Tunísia – e com consequências para o mundo árabe muçulmano dominado por tiranos – mostravam na quinta-feira 20, o centro da capital ainda repleto de jovens. Isso a despeito de Ben Ali ter sido deposto.
Os motivos pelos quais esses tunisianos continuam a ocupar as ruas são os mesmos que podem levar jovens em países como Argélia e Jordânia a tomar iniciativas para depor seus líderes: alto nível de desemprego, sobretudo para os jovens, pobreza e a corrupção dos dirigentes. E confiantes com a deposição de Ben Ali, os tunisianos continuam a servir de exemplo: reivindicam mais medidas democráticas do governo interino de unidade nacional.
Em reportagem realizada pela rede de tevê Al-Jazira ficou claro o seguinte: os eventos em Túnis transcendem a região do Magrebe. “Se os regimes árabes muçulmanos não conferirem direitos aos seus povos, terão o mesmo fim do regime tunisiano”, disse uma entrevistada pela rede baseada no Catar. Jovens inspirados pela Revolução do Jasmim, da chamada “geração Facebook”, manifestaram diante das embaixadas da Tunísia no Cairo e em Amã. Um editorialista­ ­argelino escreveu sobre “a lição tunisiana”.
Certamente assustado, o governo da Jordânia nesta semana investiu 150 milhões de euros para baixar os preços e criar empregos. Menos generoso, o eterno líder egípcio, Hosni Mubarak, de 82 anos, pediu aos seus ministros para pararem de se manifestar sobre a crise na Tunísia. Truculento, Muammar Kaddafi, desde 1969 no leme da Líbia, declarou antes da fuga de Ben Ali: “Eu não espero que ele fique somente até 2014, mas até o fim de sua vida”. Ben Ali havia dito, no começo da revolta, que não se candidataria ao sexto mandato presidencial.
Após um mês de manifestações iniciadas depois de um jovem diplomado ter se incendiado quando a barraca onde vendia legumes foi confiscada pela polícia, as reivindicações exigidas pelos tunisianos ganharam cada vez mais peso. Pressionado, o governo interino do premier Mohammed Ghannouchi, aliado de Ben Ali durante os últimos dez anos, fez inúmeras concessões. Na quinta 20, a questão-mor a motivar os jovens a dar continuidade às manifestações era a renúncia do governo de unidade nacional de todos os ex-ministros do Rassemblement Constitutionnel Démocratique (RCD), legenda­ do presidente deposto. Foram nomeados para o governo interino ex-ministros de Ben Ali, inclusive em pastas-chave como as do Exterior, da Defesa e do Interior. Mas membros dos partidos de oposição ditos legais, e até um blogueiro de 33 anos e um dos líderes da revolta, também foram incluídos no governo de transição. Ghannouchi prometeu eleições livres dentro de no máximo seis meses.
De todo modo, quatro ministros da oposição logo pediram demissão por causa da presença no governo de integrantes da agremiação de Ben Ali. Certamente escuta­ram os gritos da rua, caso contrário por que teriam aceitado seus cargos se cientes da presença de benalistas no governo de transição? Também ouviram as demandas dos jovens o premier Ghannouchi e o presidente interino Fouad Mebazaa, ex-presidente da Câmara dos Deputados, e os ministros com passado benalista. Todos deixaram o RCD. Era compreensível a reivindicação dos manifestantes. O RCD conta com mais de 1 milhão de afiliados, ou seja, um em dez habitantes da Tunísia tem a carteirinha da tentacular agremiação clientelista. Por terem deixado a ­rede, os ministros do governo de unidade nacional esperavam aplacar a ira dos jovens. Não houve trégua, os manifestantes insistiram nas suas reivindicações por um governo livre dos aliados de Ben Ali.
Simbolismos não escasseiam nessa revolução. De saída, o nome: Revolução do Jasmim em tese pressupõe um levante com intenções pacíficas. Embora não tenha sido, por ora, um banho de sangue, cem pessoas perderam a vida pela causa. O jovem que se incendiou na Tunísia inspirou outros em países como Argélia, Egito e Mauritânia. Políticos a simbolizar continuísmo devem renunciar. Outro símbolo da injustiça do sistema era a corrupção ­de responsabilidade da segunda mulher de Ben­ Ali, a ex-cabeleireira Leila Trabelsi, de 53 anos. Segundo um telegrama diplomático enviado pelo embaixador americano na Tunísia e divulgado pelo site WikiLeaks,­ Trabelsi era a líder de um clã semimafioso, formado por seus dez irmãos, que controlava a economia do país. Um empresário de qualquer setor não poderia fazer um investimento na Tunísia sem molhar as mãos de algum dos integrantes do clã.
Enquanto isso, o povo lutava contra o alto preço das commodities para poder comer. Atualmente em Riad, ao lado do marido, a ex-primeira-dama consola-se com a 1,5 tonelada de lingotes de ouro, ou 54 milhões de euros, que a acompanhou na fuga. A informação é do Le Monde. Detestada pelo povo, Leila é, em boa parte, responsável pela deposição do marido.
Era a seguinte a questão premente no dia 20: o povo se contentaria com a saída dos ex-integrantes do RDC do governo? “Revoluções jamais satisfazem as esperanças de todas as pessoas”, retruca Ali El-Baz, coordenador da Associação de Trabalhadores Magrebinos da França (ATMF) (quadro). O sindicalista de 58 anos nascido na Tunísia, mas residente na França há 35 anos, se diz inquieto. “A situação é instável, e é preciso pensar num governo de transição e de pós-transição.”
El-Baz parece não descartar a presença de “um ou dois” benalistas no governo de transição pelo seguinte motivo: líderes da oposição, mantidos às margens do mundo midiático e político desde a independência da Tunísia da França, em 1956, precisam da experiência governamental dos benalistas. Mas na pós-transição o ideal seria ter somente políticos da oposição sem elos com Ben Ali. Caso contrário, a Revolução teria sido inútil.
Nesse clima tenso, os dirigentes fazem o possível para acalmar os manifestantes. Num discurso televisionado no dia 19, Mebazaa já havia prometido uma ruptura total com o passado. A mídia e o Judiciário ganharam liberdade, e a prioridade seria dar anistia para prisioneiros políticos. Mebazaa falou em uma “revolução pela dignidade e liberdade” do povo.
Justiça, ademais, estava sendo colocada em prática. Se Ben Ali e sua segunda mulher haviam conseguido escapar, outros integrantes do clã mafioso não tiveram a mesma sorte, à exceção de um dos irmãos Trabelsi, que fugiu para Roma, e do poderoso genro Sakher el-Materi que já estava a salvo no Canadá quando começou a Revolução. Um sobrinho de Leila, envolvido no roubo de três iates na França, incluindo o de um banqueiro francês próximo a Nicolas Sarkozy (os iates foram repatriados, mas somente os comparsas na França foram julgados), foi morto por alguém empunhando uma arma branca. Outro Trabelsi chegou a subir a bordo de um avião, mas o piloto, agora herói nacional, recusou-se a decolar.
Mais de 30 integrantes da família de Ben Ali foram pegos no dia 20. Tentavam fugir com joias e ouro e serão julgados por suspeita de crimes contra a Tunísia. Procuradores tunisianos buscam localizar os bens da família Ben Ali no exterior, contas bancárias foram congeladas, inclusive na Suíça, bens da família já foram confiscados também no estrangeiro. Serão julgados os responsáveis pelo massacre de cem manifestantes, em grande parte pela guarda presidencial de Ben Ali. Felizmente, surgiu outro herói, e este decisivo, o chefe do Estado-Maior do Exército, Rachid Ammar, que se recu­sou a atirar contra a multidão e chegou mesmo a posicionar tanques entre a guarda presidencial e o povo.
Ironicamente, Paris defendeu o tirano até sua fuga. Desde a chegada ao poder de Ben Ali, em 1987, após um golpe de Estado contra seu predecessor, Habib Bourguiba, chamado de “pai da independência”, a França apoiou o ditador. Oriundo de família pobre de 11 filhos, Ben Ali fez carreira militar. Logo se especializou em segurança militar, e em 1980 era embaixador da Tunísia na Polônia. Em 1987, tornou-se primeiro-ministro, cargo que acumulou com o de ministro do Interior.
A vitória na Argélia da Frente Islâmica de Salvação (FIS) no pleito de 1990 assustou a comunidade internacional. Ben Ali eliminou o movimento islâmico no seu país, as potências ocidentais respiraram aliviadas. E após o 11 de Setembro de 2001, Ben Ali se tornou um déspota ainda mais necessário na guerra de George W. Bush.
Para Nicolas Sarkozy e seus antecessores, melhor um déspota laico que um fundamentalista na Tunísia, ex-protetorado francês de 1881 a 1956. Em visita ao país­ em 2008, Sarko surpreendeu os bem informados ao elogiar o governo por expandir as liberdades. Por sua vez, Dominique Strauss-Kahn, o chefão do FMI, tido como o socialista mais habilitado a derrotar Sar­ko em 2012, chegou a comentar que a Tunísia era modelo para países emergentes. Nos lances finais do enredo, a chanceler francesa Michèle Alliot-Marie ofereceu a Ben Ali ajuda policial. Sorte in extremis para Sarko: desviou as flechadas lançadas pela mídia para outro alvo, Alliot-Marie.
O presidente agora encoraja a democratização da Tunísia. Após mais de duas décadas sob a ditadura, a oposição foi dizimada e agora tem pela frente um árduo trabalho ao se preparar para as eleições. Moncef Marzouki, ex-presidente da Liga Tunisiana de Direitos do Homem, exilado anos a fio em Paris, será candidato à Presidência. Mas pouca gente o conhece na Tunísia.

Gianni Carta é jornalista, correspondente de CartaCapital em Paris, escreve sobre coisas da vida do Hemisfério Norte.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Brasil através do Censo

Esse artigo do jornalista Luiz Antonio Pinto de Oliveira, publicado na Revista Carta Capital, em sua edição de 8 de outubro de 2010, conta um pouco da história do processo de recensiar populações.

Contar a população de um determinado território, fosse ele uma municipalidade, capitania, província ou reino, foi desde sempre um desejo e decisão efetiva de variadas autoridades ao longo da história. Conhecer sua população equivalia a conhecer os efetivos que poderiam ser mobilizados para a guerra e os recursos que poderiam ser extraídos em favor dos objetivos dos poderes locais ou centrais.
Em perspectiva histórica, as estatísticas e atividades de sistema censitário estão ligadas às primeiras formações dos Estados clássicos na Antiguidade. Eram utilizadas para mensurar e estipular a cobrança de tributos, recrutamento militar, ações administrativas. Sua importância foi, em diversos períodos, fundamental para os poderes existentes, mas não se chegou a formular ou consolidar métodos padronizados e precisos para a contagem e caracterização das populações.
Com a formação dos Estados Nacionais modernos, após a Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, as necessidades das sociedades mais complexas, do comércio mundial e dos objetivos econômicos das nações determinaram um salto de qualidade nas atividades censitárias, que ganharam status científico e metodologias que buscavam refletir a dinâmica do conjunto dos fenômenos sociais. Estavam, a partir daí, maduras as condições para o surgimento- dos sistemas- estatísticos modernos e dos grandes Censos nacionais. Inglaterra, França e Alemanha são precursores.
No Brasil colonial, contagens populacionais foram realizadas sem regularidade ou critérios bem definidos. Também as paróquias católicas tinham enumerações populacionais por meio de seus registros de batismo, sepultamento e casamento.
Durante o Império, momento em que se dá a formação inicial do Estado Nacional e, sobretudo, após a consolidação do governo de dom Pedro II, cogitou-se um levantamento nacional que refletisse, pela primeira vez, um retrato do povo brasileiro. O Brasil era então uma nacionalidade ainda em construção, com sua unidade não inteiramente estabelecida, permeada por processos contraditórios de integração e fragmentação. Após algumas tentativas pioneiras nos anos 1850, o Império criou a Diretoria- Geral de Estatística (DGE) e, em 1872, realizou o primeiro Censo Demográfico geral no Brasil.
Esse levantamento indicou que a população recenseada já se aproximava do patamar de 10 milhões de habitantes. Os níveis educacionais eram extremamente baixos: cerca de 80% de analfabetos. As populações residentes nas atuais regiões Sul, Norte e Centro-Oeste eram pouco numerosas. Os principais contingentes demográficos nas províncias chamadas do Norte (atual Nordeste) e no eixo Minas-Rio de Janeiro-São Paulo.
O Censo de 1872 é o único da história que contabiliza o contingente de população escrava, que declinava à época. Ele também introduz a pergunta sobre a cor da população, cujos resultados preocupariam a elite imperial, que, nos anos seguintes, questionariam o destino da nação com base em questões raciais.
Com a Proclamação da República, em sua primeira fase até 1930, foram realizadas mais três Censos gerais, respectivamente em 1890, 1900 e 1920. Na virada do século XX, a população brasileira já ultrapassava os 17 milhões de pessoas, crescendo a taxas elevadas em razão da imigração estrangeira para São Paulo e estados do Sul.
A República Velha, a partir da articulação da política dos governadores, caracterizou-se por um enfraquecimento do poder central a partir da aliança política das elites regionais, sobretudo a mineira e a paulista. Em 1920, a população já superava os 30 milhões.

CRIAÇÃO DO IBGE
A Revolução de 1930 significou uma profunda mudança na organização político-administrativa do Brasil. A ordenação federativa passou a ser bastante centralizada na figura do presidente Getúlio Vargas, que criou diversos instrumentos de política institucional, regulação e intervenção na economia e nas relações sociais. A adoção de políticas econômicas demandava a existência de informações estatísticas regulares e, razoavelmente, atualizadas sobre o Brasil. Nesse sentido, a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de 1936, inseriu-se no projeto de um governo central com políticas ativas na direção da integração nacional.
O Censo Demográfico de 1940, o primeiro realizado sob a égide do IBGE, inaugurou a era moderna dos Censos no País. Sua preparação contou com a participação de profissionais qualificados, membros de uma renovada carreira de servidores públicos. A relação de questões investigadas inclui quesitos sobre as componentes demográficas (nascimentos e mortes), origem migratória, condições socioeconômicas (domicílio, educação, mão de obra) aspectos ligados ao território e nacionalidade (línguas faladas, por exemplo) e outras que fornecem informações para políticas públicas e regionais. A partir daí, dispõe-se de uma série censitária (decenal) das medidas demográficas, que se tornaram os índices oficiais de população no Brasil. O Censo de 1940 acabou tornando-se exemplo para Censos em outros países, especialmente na América Latina. A pesquisa de 1940 também revelou que quase 70% da população do Brasil, que chega a 41 milhões de pessoas, vivia em áreas rurais. A população do estado de São Paulo ultrapassou a de Minas Gerais.
Nos anos seguintes, as atividades censitárias tomaram mais impulso com a implantação da série dos Censos econômicos (indústria e comércio) e agropecuária.

ERA JK
Nos anos 50, o modelo desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubistchek afirmou-se no País, com uma clara hegemonia das frações urbano-industriais na arena das decisões políticas e econômicas. A fundação da nova capital, Brasília, canalizou parte dos vários movimentos e fluxos no sentido da “marcha para o Oeste”, revelando ao Brasil todo a emergência e a diversidade de novos espaços demográficos, culturais e socioeconômicos.
Nas décadas de 50 e 60 o País toma conhecimento das realidades regionais e os quadros dramáticos do êxodo rural, do latifúndio e da pobreza. As lutas sociais avançam no campo e nas cidades, e a Região Nordeste aparece como problema. Os números do Censo demográfico revelam o quadro dramático das migrações, a identificação do crescimento populacional nas grandes capitais do Centro-Sul e as deficiências de infraestrutura. Paralelamente, políticas desenvolvimentistas reforçam o parque industrial localizado na Região Sudeste, sobretudo, em São Paulo, e contribuem para exercer um poder ainda maior de atração de migrantes vindos do Norte-Nordeste e Minas Gerais.
Segundo o Censo de 1960, a população rural ainda era superior à urbana (55,3%), mas já indicava que a população urbana seria maior até o Censo de 1970 – de fato, 55,9% da população brasileira já residia em áreas urbanas na virada da década.
A controvérsia sobre a distribuição de renda, talvez seja o ponto mais lembrado do Censo de 1970. A repetição da pergunta sobre os rendimentos feita em 1960 e a comparação dos dois pontos temporais, estabeleceu um amplo e abrangente debate sobre as políticas econômicas e sociais e os processos de distribuição e concentração de renda no Brasil. Em tempo de regime militar, os resultados geraram debates centrados nos aspectos perversos da concentração de renda. Surgiram questionamentos e criou-se o pilar para a construção de cenários para um futuro social politicamente mais justo.
O progressivo esvaziamento político do regime militar, iniciado em fins dos anos 70, representou um deslocamento do foco de atenção das políticas de Estado. Nos “anos de chumbo” e no período desenvolvimentista do governo Ernesto Geisel, as estatísticas eram direcionadas para a produção de dados e indicadores com vistas a um planejamento socioeconômico centralizado.
Já na redemocratização, o IBGE defrontou-se com novas agendas técnicas e temáticas, conjugadas com as exigências democráticas de transparência e acessibilidade. Novos temas foram incorporados à pesquisa. Nos primeiros anos da Nova República, a crise financeira do Estado e a expansão desregulada da globalização fizeram o Brasil mergulhar em situações de crise política e financeira, com acentuada inflação. O IBGE vivenciou dificuldades institucionais, culminando com o adiamento do Censo de 1990 para o ano seguinte. Posteriormente, com a estabilidade monetária e um novo consenso político a partir de 1993/1994, o IBGE regenerou-se.
Importante ressaltar que os Censos de 1980, 1991 e 2000 confirmaram o seu peculiar processo de transição demográfica, com rápido declínio dos níveis de fecundidade e de crescimento demográfico, aumento da esperança de vida, redução do tamanho da família e progressivo movimento de envelhecimento populacional.
O retrato do País passou também a caracterizar profundamente questões étnicas e culturais. As informações sobre cor/raça, reintroduzidas em 1980, alimentaram durante as décadas recentes o debate sobre a questão racial no Brasil. Em 1991, foi estabelecida a caracterização específica da população indígena e, na comparação com os resultados do Censo 2000, estudos detalhados foram feitos sobre a evolução dessa população. Da mesma forma, a série censitária recente sobre a opção religiosa dos brasileiros vem revelando o crescimento das religiões- evangélicas e redução dos católicos.
Para o Censo 2010, teremos uma imagem territorial completa do crescimento e distribuição da população brasileira, fundamental para as políticas regionais e setoriais. O País vem crescendo demograficamente a ritmo declinante, com uma taxa hoje ligeiramente superior a 1% ao ano (na década de 50, o crescimento era de 3% ao ano, o que dobrava a população a cada 24 anos) e vários municípios perdem população para os chamados municípios médios e grandes, que são polos de atração por razões econômicas e de oferta de serviços (saúde, educação, cultura, assistência etc.).

Anatomia de um povo desprezado

Por Helion Póvoa Neto, Professor da UFRJ e Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios (NIEM)

Os ciganos por vezes aparecem como povo “à parte”, não pertencente a nações territoriais, com vida nômade ou seminômade, provocando estranheza numa sociedade com valores associados à sedentarização, como a Europa.
Junto disso, é bom lembrar que, na sociedade moderna, pessoas partem em busca de novos lugares para viver e se estabilizar, por causas econômicas, políticas e religiosas. São as migrações.
Ao mesmo tempo, há movimentos associados à “errância”, ao nomadismo ou à incapacidade de estabelecer relações duradouras com os lugares e as formas de trabalho mais tradicionais, que são fortemente estigmatizados, levando a iniciativas de assimilação ou sedentarização forçada. Os povos ciganos já foram alvo de tais processos, embora muitos mantenham seu estilo de vida característico. Costumam atuar em ofícios ligados à arte e às atividades mágicas, com uma existência tida como “aventureira”, suscitando atitudes ambíguas da parte dos que vivem em sociedades não nômades.
Tem sido este o tom do relacionamento das sociedades ocidentais com os ciganos ao longo da história, desde que apareceram no continente europeu, causando, ao mesmo tempo, curiosidade e medo. Não havia registros escritos sobre sua origem e história. Paralelamente, praticavam uma cultura de transmissão oral, em uma língua incompreensível e cheia de segredos para os ocidentais.
O nome com que passaram a ser conhecidos já revela esse aspecto. Identificando-se como refugiados do Egito muçulmano, favoreciam a associação entre “egípcios” (égiptiens, egyptians, egitanos) e os nomes gitans, tsiganes em francês, gypsies em inglês, gitanos em espanhol, ou ciganos em português. Muitos ciganos consideram tais nomes pejorativos e, mesmo sem consenso, preferem a designação de povos romani, rom ou roma.

A chegada à Europa
Sendo o continente europeu fundamentalmente cristão, especulações sobre a origem dos ciganos apoiaram-se em escritos bíblicos. Já foram qualificados como amaldiçoados, condenados a vagar pelo mundo por descenderem de Caim, por terem negado abrigo a José e Maria na volta do Egito ou por haverem forjado os pregos usados para a crucificação de Jesus Cristo.
Vale notar a semelhança com lendas referentes a outro grupo, os judeus, também associados à errância, a uma “culpa original” e ao exercício de ofícios diferentes daqueles dos cristãos. Séculos mais tarde, tidos como “sem pátria”, os dois grupos seriam vítimas do Holocausto na Alemanha nazista.
As conclusões já aceitas sobre os ciganos baseiam-se em registros escritos e nas línguas e dialetos romani, que foram assimilando características das regiões pelas quais passavam.
A explicação mais aceita aponta para a península indiana como área de origem, com a saída ocorrendo na Antiguidade. Textos e imagens de época registram a chegada e passagem de músicos e outros trabalhadores indianos à Pérsia (atual Irã) entre os séculos III e V de nossa era. Outros registros históricos documentam um movimento progressivo, rumo ao Ocidente, de grupos nômades com origem indiana.
No século XIV, a presença dos ciganos começou a se fazer notar na maior parte da Península Balcânica, onde hoje estão Croá-cia, Sérvia, Bulgária e Romênia. Nessas regiões registram-se também os primeiros sinais de escravização de ciganos, um fenômeno que ocorreria até o século XIX em boa parte do Leste Europeu.

Estigma e Violência
As guerras e as crises agrárias na Europa, entre o fim da Idade Média, haviam deixado senhores de terras sem trabalhadores, o que acarretou uma legislação contra a vagabundagem e a errância, visando compelir as pessoas ao trabalho. Os ciganos, com pele mais escura, sem vínculos a nenhuma nação reconhecida e parecendo “naturalmente” nômades, foram as maiores vítimas. Eram alvos também para a Igreja Católica, preocupada com formas de magia (a leitura de mãos e a previsão do futuro).
Assim, ao mesmo tempo que os ciganos chegavam à Europa Ocidental, por volta do século XV, as atitudes discriminatórias se acentuavam. Mesmo onde não havia escravidão, ser reconhecido como cigano ou judeu equivalia a ser criminoso e ao trabalho nas galés (prisões). Nobres, reis e papas buscavam submeter os nômades vistos como irredutíveis ou indesejáveis. O papa Pio V incitou os governos de Portugal, Espanha e França a expulsar ciganos das áreas católicas para África e América. Em alguns casos, os próprios ciganos tomaram a iniciativa de emigrar para o Novo Mundo, seguindo os judeus que se cristianizavam e fugiam das perseguições na Europa.
No século XVIII, permaneceram tentativas de sedentarização forçada e erradicação das línguas romani. Muitos, porém, permaneceram nômades: viviam de transporte e a venda de animais, comércio em mercados temporários, trabalho como músicos e artistas de circo, leitura de mãos e adivinhação da sorte nas cidades.
Em alguns países, tiveram uma relativa estabilidade e integração às sociedades locais, como na Espanha, onde a cultura flamenca é praticada por ciganos e reconhecida como um símbolo de identidade nacional.
No Leste Europeu, onde ciganos representam porcentagem significativa da população em países como a Romênia e a Bulgária, permanece predominantemente o grupo rom, ou roma, que pratica a língua romani e apresenta diversos subgrupos.
A partir do século XIX, as atitudes quanto aos ciganos estabilizaram-se, na Europa, persistindo a discriminação, mas com um crescente interesse em sua linguagem, música e cultura. As leis anticiganos tendiam a ser abolidas, juntamente com a servidão e a escravidão no Leste. O espírito romântico nas artes voltou-se muitas vezes para os ciganos.

Da sedentarização ao extermínio
A relação entre ciganos e povos europeus voltou a ser violenta com o governo nazista da Alemanha. Manifestações de intolerância surgiram na década de 1920, quando leis pronunciavam ciganos e judeus como “raças estrangeiras” de sangue “impuro” e ameaçadoras ao projeto de pureza racial alemã.
Classificados como criminosos, alheios à “sociedade normal”, foram deportados à Polônia, aprisionados em campos de concentração e submetidos, de 1943 a 1945, à chamada “solução final”, com o extermínio de 200 mil a 800 mil ciganos.
No pós-Segunda Guerra Mundial, os ciganos do Leste Europeu, habitantes dos países do bloco socialista, estiveram sujeitos a projetos de assimilação e sedentarização- forçada. O nomadismo sofreu interdições, e a escolarização tornou-se obrigatória, com negação do estatuto de minoria étnica e linguística. A sedentarização foi atingida, mas em geral a assimilação fracassou: ressentimentos e preconceitos entre ciganos e não ciganos existem até hoje.

A abertura da União Europeia
Durante a Guerra Fria, ciganos do Leste Europeu eram proibidos de viajar. Porém, na década de 1960, ocorreu uma vinda de ciganos, principalmente da antiga Iugoslávia, para países ocidentais.
A grande mudança nos fluxos aconteceu a partir de 1989, com a queda dos regimes socialistas e a migração, em massa, de grupos acalentados pelo sonho do “Ocidente próspero” e receptivo à imigração. Juntando-se a outros não ciganos do Leste, milhares de roma deslocaram-se legal ou ilegalmente.
A partir de 2004, ingressaram na União Europeia países com considerável população cigana, como Hungria, Eslováquia, República Tcheca. Em 2007, aderiram também Bulgária e Romênia.
O problema dos ciganos confunde-se com a rejeição aos imigrantes em geral, e também com o tema político, extremamente sensível, o da expansão da UE rumo ao Leste. Outros países com consideráveis contingentes de ciganos são também candidatos ao ingresso, como Sérvia e Turquia.
A União Europeia foi pensada como um espaço comum de circulação, com eliminação do controle de fronteiras para os países participantes. Todavia, os habitantes dos últimos países a entrarem na UE não são ainda membros plenos, o que têm repercussões para a situação dos imigrantes do Leste nos países europeus ocidentais.
As iniciativas recentes de deportação de ciganos romenos e búlgaros pela França, com ameaças em outros países, podem ser entendidas nesse contexto. A situação de “sem domicílio fixo” de boa parte dos ciganos e a alegação de constituírem risco para a ordem pública também aparecem como justificativas. A criminalidade é frequentemente alegada como razão para o estigma da comunidade. Porém, a situação de rejeição parece ser também uma causa para a restrição das opções de trabalho e sobrevivência para os ciganos.
A história mostra que responsabilizar todo um povo, cultura ou etnia, por problemas sociais mais amplos, pode ter consequências graves. Notícias recentes quanto a um “cadastro étnico” que a polícia francesa teria elaborado para os ciganos evocam perigosamente iniciativas semelhantes já mencionadas, e causam temores quanto ao que podem prenunciar.
A situação dos ciganos alerta a todos nós para os riscos da busca dos “culpados mais fáceis”, numa Europa que valoriza a diversidade cultural e tem como um de seus princípios a livre circulação.

Os Ciganos no Brasil
No século XVI, os primeiros ciganos desembarcaram na Colônia, provavelmente ibéricos degredados. Há registros também da presença de ciganos na região das Minas Gerais no século XVIII, em geral acusados de “desordeiros”. No Rio de Janeiro, alguns ciganos enriqueceram com o comércio de escravos.
No século XIX, outros grupos começam a chegar, em meio à política de abertura à imigração europeia. Tidos como indesejáveis pelos oficiais de imigração na maioria dos países, ocultavam sua condição tanto às autoridades dos locais de partida quanto às dos países de chegada. Assim, mesmo sem identificação precisa, nos séculos XIX e XX, o Brasil recebeu ciganos em meio aos fluxos de imigração alemã, italiana e do Leste Europeu.
Essa falta de identificação no processo migratório explica a imprecisão das estimativas atuais quanto ao número de ciganos e descendentes em território brasileiro. Com exceção de alguns grupos no interior do País, atuando como artistas de circo, comerciantes e ferreiros, a comunidade cigana é bem pouco visível na sociedade brasileira.
A recente valorização da identidade cigana, em novelas de tevê, em grupos de música e dança, estimulou alguns a se assumirem ou redescobrir suas “raízes ciganas”, embora o preconceito e as associações negativas ainda persistam. Um exemplo de origem cigana pouco conhecida é o de Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente da República (1956-1961), neto de um imigrante do império austro-húngaro que chegou a Diamantina (MG) em meados do século XIX.

Educação: presença da família como vetor de qualidade

* Dal Marcondes
Educação é um consenso. Ninguém é capaz de minimizar a importância da educação para as transformações necessárias à sociedade brasileira em seu caminho para construir uma nação desenvolvida. No entanto, há muitas dúvidas em relação ao que é necessário para a transformação dos processos educacionais para que estudantes dos mais diversos ciclos possam ter aproveitamento pleno das oportunidades educacionais e transformarem-se em cidadãos educados em ciência, engenharia, sociologia, filosofia, línguas e todos os conhecimentos necessários para uma sociedade complexa.

Outro consenso da sociedade é a impossibilidade de se fazer observações ou críticas em relação ao trabalho dos professores vinculados ao ensino público. O Estado os trata com descaso. Dá mais importância a estruturas de cimento e tijolos, tanto que não há mais problemas de vagas nas escolas públicas do Estado de São Paulo. No entanto, desta escolas emergem estudantes despreparados, incapazes de interpretar textos mais elaborados, sem nenhuma intimidade com a matemática ou com a tabela periódica. Uns poucos, mais talentosos, superam as carências das salas de aula graças a esforços individuais ou familiares, mas a grande maioria vai formar uma massa de cidadãos incapazes de ocupar os cargos técnicos, científicos e de gestão necessários para uma nação moderna.

Tratamos, historicamente, os professores como coitados abnegados, e uma grande parte vestiu a carapuça. Escolas estaduais não tem professores em quantidade necessária para fazer frente ao número de alunos que suas salas de aula podem receber (então fecha-se algumas salas e superlota-se outras). Diretores estão sempre em uma dança das cadeiras onde estão sempre buscando um cargo melhor ou que demande menos trabalho na estrutura da Secretaria de Educação. Poucos são os que assumem suas escolas e trabalham para que a qualidade do ensino ajude a superar o círculo de ignorância e pobreza de populações de mais carências do que esperanças.

Durante dois anos estive à frente da Associação de Pais e Mestres do Colégio Alves Cruz, em uma região nobre de São Paulo, perto de uma estação de Metro, com uma linda praça em frente e a poucas centenas de metros da avenida Paulista. Um escola bem construída, com salas de aula arejadas e bons espaços para recreação e esportes. Nem por isso uma escola com bom desempenho educacional. Nos dois anos que estive à frente da APM vi passar pelo Alves Cruz meia dúzia de diretores, nenhum deles comprometido com a escola ou com a qualidade de ensino daquela unidade. Apenas fazendo hora para assumir um novo cargo, de preferência burocrático, e que não tivesse de lidar diretamente com professores e alunos.

Esta experiência também mostrou o afastamento das famílias do ambiente escolar. Mandamos filhos para a escola e nos desligamos da responsabilidade com a educação. Não há comparecimento de pais nas atividades realizadas nas escolas, poucos vão às reuniões com professores e quase ninguém quer compromissos com as APMs. No entanto, a experiência serviu para mostrar que uma APM ativa, capaz de diálogo com diretores, orientadores pedagógicos, com os estudantes e até com a Secretaria de Educação é fundamental para melhorar a qualidade de ensino das escolas. Mais do que medidas genéricas, para toda a rede, a qualidade virá de medidas locais, nas escolas, onde pais, estudantes e professores podem estruturar uma nova forma de relacionamento e de comprometimento com o resultado que se espera.

Exemplos simples de ações dos pais são profundamente transformadores. Nesta escola haviam alunos que compravam bebidas alcoólicas no supermercado em frente. O supermercado dizia que eram maiores de idade, portanto não poderiam restringir a venda. Uma conversa dos pais com os responsáveis pelo estabelecimento pôs fim a esse comércio. Outro caso foi o do barulho nas salas de aula, provocados por cadeiras com pés de metal sendo arrastadas em pisos frios. Uma ação dos pais instalando protetores de borracha em todos os pés de cadeira reduziu o nível de barulho a uma altura administrável pelos professores. No primeiro dia de aula após serem instalados os protetores de borracha, a impressão era de que a escola estava sem atividades, tal era o silêncio. Medidas simples.

Famílias dentro das escolas também tem um grande potencial na redução de conflitos entre alunos e na violência que chega a atingir também gestores e professores. O Estado não tem como substituir o respeito que cada um tem com pais, avós e outros familiares. É comum nas discussões entre professores e pais chamados para repreender seus filhos a resposta: “Mas em casa ele não se comporta assim”. Pois bem, em se levando a família para dentro da escola, é grande a possibilidade de que o comportamento mais contido diante dos pais passe a ser seguido também diante dos educadores.

Mas, há coisas que estão fora do alcance da unidade escolar. São coisas da relação entre Secretaria de Educação, professores e diretores. Coisas do universo da gestão da relação de trabalho entre estes órgãos. Professores devem ser bem remunerado e não podem faltar. Hoje as estatísticas de faltas entre professores são absurdas, gerariam demissão em qualquer organização medianamente bem administrada. Diretores devem assumir as escolas para as quais estão designados e responder pela gestão daquela unidade de acordo com metas e indicadores de desempenho, coisa que ainda não acontece. E, talvez, o mais importante, a lei prevê a APM, mas diretores e professores enxergam a presença da família nas unidades escolares como ingerência indevida em suas atividades. É preciso mudar isso, realizar processos de conscientização da sociedade sobre a necessidade de participar das escolas, e dos educadores e diretores sobre o benefício desta participação, em uma relação de respeito e construção solidária da qualidade de ensino.

Em cada escola deve existir uma APM, mas muitos diretores boicotam a formação desta entidade, de modo a não ter de dividir com a sociedade a responsabilidade por suas decisões. Em uns poucos casos, também, para evitar que haja um controle da sociedade sobre as verbas destinadas à escola, que desta forma podem ser, e muitas vezes são, desviadas através de uma prestação de contas com notas compradas ou frias. (Envolverde)

Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, Revistas Isto É e Exame. Desde 1998 dedica-se a cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial. Recebeu por duas vezes o Prêmio Ethos de Jornalismo e é reconhecido como um "Jornalista Amigo da Infância" pela agência ANDI.

Entenda o que é "Paraíso Fiscal".

Paraísos fiscais, os prostíbulos do capitalismo
Blog do Emir Sader 25 de janeiro de 2011

Por Emir Sader

Nesses territórios se praticam todos os tipos de atividade econômica que seriam ilegais em outros países, captando e limpando somas milionárias de negócios como o comércio de armamentos, do narcotráfico e de outras atividades similares.
Os paraísos fiscais, que devem somar um total entre 60 e 90 no mundo, são micro-territórios ou Estados com legislações fiscais frouxas ou mesmo inexistentes. Uma das suas características comuns é a prática do recebimento ilimitado e anônimo de capitais. São países que comercializam sua soberania oferecendo um regime legislativo e fiscal favorável aos detentores de capitais, qualquer que seja sua origem. Seu funcionamento é simples: vários bancos recebem dinheiro do mundo inteiro e de qualquer pessoa que, com custos bancários baixos, comparados com as médias praticadas por outros bancos em outros lugares.
Eles têm um papel central no universo das finanças negras, isto é, dos capitais originados de atividades ilícitas e criminosas. Máfias e políticos corruptos são frequentadores assíduos desses territórios. Segundo o FMI, a limpeza de dinheiro representa entre 2 e 5% foi PIB mundial e a metade dos fluxos de capitais internacionais transita ou reside nesses Estados, entre 600 bilhões e 1 trilhão e 500 bilhões de dólares sujos circulam por aí.
O numero de paraísos fiscais explodiu com a desregulamentação financeira promovida pelo neoliberalismo. As inovações tecnológicas e a constante invenção de novos produtos financeiros que escapam a qualquer regulamentação aceleraram esse fenômeno.
Tráfico de armas, empresas de mercenários, droga, prostituição, corrupção, assaltos, sequestros, contrabando, etc., são as fontes que alimentam esses Estados e o mecanismo de limpeza de dinheiro.
Um ministro da economia da Suíça – dos maiores e mais conhecidos paraísos – declarou em uma visita a Paris, defendendo o segredo bancário, chave para esses fenômenos: “Para nós, este reflete uma concepção filosófica da relação entre o Estado e o indivíduo.” E acrescentou que as contas secretas representam 11% do valor agregado bruto criado na Suíça.
Em um país como Liechtenstein, a taxa máxima de imposto sobre a renda é de 18% e o sobre a fortuna inferior a 0,1%. Ele se especializa em abrigar sociedades holdings e as transferências financeiras ou depósitos bancários.
Uma sociedade sem segredo bancário, em que todos soubessem o que cada um ganha – poderia ser chamado de paraíso. Mas é o contrário, porque se trata de paraísos para os capitais ilegais, originários do narcotráfico, do comercio de armamento, da corrupção.
Existem, são conhecidos, quase ninguém tem coragem de defendê-los, mas eles sobrevivem e se expandem, porque são como os prostíbulos – ilegais, mas indispensáveis para a sobrevivência de instituições falidas, que tem nesses espaços os complementos indispensáveis à sua existência.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RESOLUÇÃO - UFMG 2011 - 2ª ETAPA

QUESTÃO 01
Leia este trecho:
[...] no começo do Fanerozóico (Cambriano – Ordoviciano), a vida fervilhava nos mares, enquanto os continentes permaneciam praticamente desérticos e sem vida (à exceção das bactérias).
Para se ter em mente a importância da cobertura dos continentes pela vegetação, basta tentar imaginá-los totalmente nus e quais seriam as consequências advindas deste fato.
IANUZZI, Roberto; VIEIRA, Carlos E. L. Paleobotânica. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2005. p. 62. (Adaptado)
A partir da leitura desse trecho e considerando outros conhecimentos sobre o assunto, DESCREVA uma consequência da conquista das terras emersas continentais pelos vegetais para
A) a superfície rochosa até então nua.
A superfície rochosa passou a sofrer um intenso processo de intemperismo biológico, isso devido ao aparecimento dos vegetais nas terras continentais. Esse intemperismo permitiu a formação de uma camada de solo em diversas partes do planeta, modificando a superfície rochosa.

B) a atmosfera e o clima.
Com a presença dos vegetais na superfície terrestre, através da evapotranspiração, a umidade do ar foi aumentada. Isso possibilitou a ocorrência de chuvas em várias partes da Terra, alterando as condições atmosféricas e dos climas terrestres.

C) a vida animal.
O surgimento da vida animal está associado à presença vegetal na superfície terrestre na medida em que houve a disponibilidade de comida para essa vida que surgia.


QUESTÃO 02
Analise este mapa, em que estão representados os resultados obtidos por um grupo de pesquisa internacional, ao estimar a taxa de perda do hábitat natural em parte do Continente Sul-americano:

1. A partir dessa análise e considerando outros conhecimentos sobre o assunto, EXPLIQUE por que a perda mais significativa de hábitat, até 2050, está prevista para ocorrer no espaço nacional que apresenta, no mapa, a forma de um arco, que se estende do Maranhão até Rondônia.
Essa região é conhecida como Arco do Desmatamento e nela a atuação econômica humana é muita intensa. Expansão da agropecuária (gado, depois soja), corte legal e ilegal de madeira, realizado por madeireiras, principalmente no Maranhão, grandes projetos minerais, como o Projeto Carajás,no Sul do Pará. Essas atividades levam a uma perda muita grande de hábitat, prejudicando a flora e a fauna da floresta Amazônica.

2. Leia esta afirmativa:
As razões que justificam o menor impacto de perdas, tanto na fachada oriental do território nacional quanto no noroeste da Amazônia Legal Brasileira, são equivalentes e integram o mesmo grupo causal.
Você concorda com essa afirmativa?
Não.
JUSTIFIQUE sua resposta.
A região noroeste da Amazônia Legal Brasileira é uma área de difícil acesso, por se isso se encontra ainda bem preservada. A porção oriental já foi bastante impactada, sendo uma área de colonização que remonta o século XVI e que ao longo do tempo, principalmente o século XX, sofreu os impactos da expansão urbano-industrial. As razões são distintas: no noroeste, isolamento, preservação. Na faixa oriental, pouco resta para ser impactado.

QUESTÃO 03
Analise este planisfério, em que estão representados os fluxos de comércio internacional de acordo com o valor das trocas realizadas:

Esses fluxos estabelecem-se porque os recursos naturais, o espaço e a população não se distribuem de forma homogênea entre os países e, também, em resposta à atuação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em nível internacional, bem como dos blocos econômicos regionais, que defendem a intensificação do comércio como fonte de prosperidade para os participantes.
1. Considerando que, no planisfério, se evidencia uma concentração do comércio e do valor das trocas internacionais no Hemisfério Norte, RESPONDA:
Como essa concentração de valor é influenciada
A) pelas mercadorias envolvidas nos fluxos comerciais?
Os países industriais desenvolvidos (ditos países centrais) são grandes monopolizadores de capital, tecnologia e mercados. São eles que possuem as matrizes do sistema financeiro internacional, produzem e comercializam tecnologia de ponta (produtos com alto valor agregado) e possuem um mercado interno com elevado padrão de consumo.

B) pela distribuição mundial da população?
A população mundial está próxima dos 6,7 bilhões de pessoas. Desse total, quase 80% vive no Hemisfério Sul, ou seja, no mundo pobre. Apesar de ser minoria, a população do Hemisfério Norte tem alto poder de consumo, o que demanda elevado consumo de mercadorias.

2. Considerando que o Hemisfério Sul, como também se evidencia no planisfério, tem uma participação modesta no valor gerado pelo comércio internacional e que, além disso, as trocas intrazonais são, percentualmente, muito menores que as registradas no Hemisfério Norte,
A) APRESENTE dois fatores que justificam a fraqueza das trocas intrazonais no Hemisfério Sul.
Fator 1: produção de bens semelhantes, normalmente produtos primários, de pouco interesse comercial.
Fator 2: baixo poder aquisitivo da população do Hemisfério Sul o que gera pequeno mercado interno, causando uma pequena expressividade do comércio intrazonal.
Fator 3: parque industrial obsoleto ou ainda inexistente.
Fator 4: pequena integração comercial entre os blocos de países desta parte do globo, que vivem crises econômicas intermináveis.

B) CITE uma razão que explique o baixo valor da participação do Hemisfério Sul no comércio mundial.
Razão 1: são países que exportam as chamadas commodities, que possuem baixo valor agregado e que tem seus preços determinados pelos países do Norte. As trocas, normalmente, são desiguais no capitalismo, privilegiando uma mi¬noria, que se especializou em um produto mais caro na divisão internacional do trabalho.
Razão 2 : o protecionismo exercido pelos países do Norte sobre os do Sul. As barreiras alfandegárias, sanitárias ou os subsídios agrícolas impedem que os países do Sul tenham maior participação no comércio internacional.

QUESTÃO 04
Analise este mapa:

A partir dessa análise e considerando outros conhecimentos sobre o assunto,
1. EXPLIQUE por que o autor do mapa reforçou algumas linhas de fronteira e as denominou “linhas de fratura”.
É que esses países viveram recentemente diversas tensões em suas fronteiras, levando a um perigo de intervenções dos estados envolvidos e até conflitos armados. Exemplos: Venezuela X Equador; Bolívia X Peru.

2. Embora a fronteira da Bolívia com o Chile não tenha sido identificada, no mapa, como “linha de ruptura”, sabe-se que há uma faixa de disputa entre esses dois países.
EXPLIQUE qual é o interesse boliviano nessa estreita faixa de terra.
O interesse está ligado a um fator histórico, a chamada Guerra do Pacífico que foi um conflito ocorrido entre 1879 e 1883, confrontando o Chile às forças conjuntas da Bolívia e do Peru. Ao final da guerra o Chile anexou ricas áreas em recursos naturais de ambos os países derrotados. O Peru perdeu a província de Tarapacá e a Bolívia teve de ceder a província de Antofagasta, ficando sem saída soberana para o mar, o que se tornou uma área de fricção na América do Sul, chegando até os dias atuais, e que é para a Bolívia uma questão nacional (a recuperação do acesso ao oceano Pacífico consta como um objetivo nacional boliviano em sua atual constituição).

3. IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a natureza de outros problemas que geram tensões entre os países andinos, bem como entre estes e os países vizinhos não andinos.
Problema 1: Ação dos narcotraficantes que, ao produzirem e comercializarem drogas, desestabiliza sociedades e governos da região.
Problema 2: ação de grupos guerrilheiros colombianos, FARCs e ELN, que tem invadido fronteiras de outros países provocando tensões diplomáticas.

QUESTÃO 05
No Brasil, é comum a defesa da agricultura familiar, mas privilegia-se, pela concessão de créditos e de investimentos em infraestrutura, o agronegócio.
A este último, porém, não só cabem méritos  equilíbrio da balança comercial e composição do superávit primário  que favorecem a economia nacional, mas também pesam alguns “pecados”  a perda de biodiversidade e grande parcela de responsabilidade na escassez de água, que ameaça a humanidade nas últimas décadas.
Por outro lado, a agricultura familiar é, em geral, menos produtiva por hectare que ocupa. Tendo-se em vista, porém, outras atividades da economia  a indústria e o comércio, por exemplo , essa modalidade de agricultura é, muitas vezes, mais capaz de promover o estímulo ao crescimento econômico nacional.
Considerando essas informações e outros conhecimentos sobre o assunto,
A) CITE e EXPLIQUE duas estratégias adotadas pelo agronegócio que comprometem a biodiversidade e os recursos hídricos no Brasil.
Estratégia 1: uso de agrotóxicos na lavoura.
Explicação: no processo de infiltração da água no solo, o agrotóxico acaba atingindo os lençóis freáticos, contaminando-os.
Estratégia 2: monocultura.
Explicação: o cultivo de uma única espécie vegetal prejudica a biodiversidade local além de desgastar mais rapidamente o solo.

B) CITE dois fatores que, no Brasil, fazem da agricultura familiar um estímulo para a economia nacional ou para o comércio e a indústria.
Fator 1: grande parte da produção agrícola familiar é destinada ao mercado interno, gerando renda e trabalho para os brasileiros.
Fator 2: a agricultura familiar fornece matéria-prima para as grandes agroindústrias existentes no Brasil.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Censo 2010

O censo 2010 divulgado pelo IBGE trouxe números interessantes sobre nossa microrregião.
Teve cidade que diminuiu sua população, outra que cresceu bem acima da média nacional.
Veja os números:
Brasil :190.732.694 habitantes ante 169.799.170 habitantes em 2000, crescimento de 12.33%
Minas Gerais: 19.595.309 ante 17.891.494, crescimento de 9.52%
Campo Belo: 51. 509 ante 49.187 em 2000, crescimento de 4.72% nos últimos 10 anos
A população de Candeias cresceu apenas 0.91%, passando de 14.461, em 2000, para 14.592 em 2010.
Cristais, cresceu 18.73%, passando de 9.518, em 2000, para 11.301 em 2010, crescimento maior que a média nacional.
A população de Cana Verde regrediu -1.32%, passando de 5.664 em 2000, para 5.589 em 2010.
Já a cidade de Santana do Jacaré cresceu 4,65%, passando de 4408 em 2000, para 4613 em 2010.
Esses números deixam claro que nossa região precisa encontrar uma vocação econômica que seja mais dinâmica, que possa atrair e não ser área repulsora de população(principalmente nossos jovens).
Deixe seu comentário sobre esses números.